O sistema de sucessão soja-milho, ou milho safrinha, vem ganhando visibilidade ao longo dos anos, principalmente nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, sudoeste de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, devido às condições climáticas destas regiões, como o regime de chuvas prolongado e a amplitude térmica que proporcionam altos tetos produtivos. Neste artigo, separamos sete dicas para potencializar o planejamento da programação soja-milho, confira!
Um dos principais benefícios dessa prática é a otimização do uso da área, possibilitando duas safras com altíssimo rendimento. Além disso, é válido ressaltar que o ciclo mais curto das cultivares de soja tem permitido a colheita antecipada, aumentando a janela de plantio ideal para cultura do milho.
Outro ponto importante na sucessão soja-milho é a possibilidade de otimização do maquinário e dos implementos agrícolas, que têm sua atuação dobrada dentro da propriedade. Semeadores e colheitadeira, máquinas anteriormente utilizadas uma vez no ano, passam a ter seu uso duplicado e otimizado, trazendo a redução do custo de investimento.
Também podemos destacar o aproveitamento eficiente do nitrogênio proveniente da FBN (fixação biológica de N). A cultura da soja no verão é capaz de deixar 35 a 45 kg.ha-1 de residual no solo segundo dados da literatura.
Abaixo, listamos algumas estratégias para potencializar seu planejamento e o sucesso dessa programação:
1. Escolha da área
O planejamento deve ser iniciado na escolha da área com maior aptidão para o cultivo de milho safrinha. Além disso, o nível de fertilidade e equilíbrio de nutrientes no solo são muito importantes. Nitrogênio e fósforo disponíveis para extração da planta de potássio, cálcio e magnésio são principais macronutrientes responsáveis pelo aumento de potencial produtivo.
O manejo da fertilidade da área vem também com as práticas de calagem, gessagem e adubação equilibrada com micronutrientes.
2. Escolha da cultivar de soja
Cultivares de soja com menor ciclo proporcionam maior segurança na implementação da segunda safra. É válido ressaltar que o agricultor deve avaliar, juntamente ao seu engenheiro agrônomo, a melhor cultivar para a sua propriedade, considerando a adaptação para a sua região, precocidade, estabilidade e potencial produtivo.
3. Época de plantio
A época de plantio do milho safrinha possui impacto direto sobre o potencial produtivo da lavoura e, por isso, deve ser determinada no início do planejamento. Um erro nos cálculos ou na escolha da cultivar pode causar atrasos no plantio do milho e um menor aproveitamento da janela de chuvas.
Outro detalhe importantíssimo é que a cultura do milho tem seu ciclo definido através da soma térmica diária, ou seja, o acúmulo de graus no dia. Atrasos de, por exemplo, sete dias no plantio podem significar aumento de 20 dias no final do ciclo, potencializando os riscos de danos na lavoura.
Esse aumento de dias também pode coincidir com as geadas, recorrentes nos meses de junho e julho.
4. Residual de herbicidas e manejo de resistência
Um ponto de atenção na hora da dessecação de plantas daninhas e manejo do solo é identificar o período de persistência do herbicida aplicado no solo e a interferência que ele pode ter no desenvolvimento inicial do milho.
Alguns herbicidas utilizados na cultura da soja podem ter longos períodos de persistência, causando danos à cultura do milho safrinha. Além disso, é importante considerar o manejo da resistência de plantas daninhas X cultivo de milho RR, questão relacionada ao uso repetitivo de um mesmo herbicida. O manejo correto deve ser realizado com a utilização de outros princípios ativos, evitando que as plantas daninhas se tornem seletivas.
5. Controle preventivo de insetos (percevejos e lagartas)
A repetição de sistema soja-milho safrinha pode ocasionar a ponte verde, isto é, insetos que atacam a cultura do milho sobrevivendo na cultura da soja. No estabelecimento inicial da cultura do milho, o complexo de percevejos é um exemplo, podendo provocar danos significativos na lavoura. Quando não controlado no momento correto, pode causar perdas de até 43% em comparação a uma planta não atacada. A principal espécie causadora de danos em milho é a Dichelops melacanthus, percevejo de barriga verde.
A lagarta do cartucho, Sposoptera frugiperda, é outra praga importante na cultura do milho. Possui hábito alimentar polífago e sua incidência também se acentua devido a prática da sucessão soja/milho. Sua ação danosa não ocorre apenas no cartucho, ela também pode fazer estragos nas espigas e na planta como um todo.
É fundamental que o agricultor lance mão de estratégias de controle de percevejos e lagartas ao longo do ciclo da soja e inclusive na dessecação pré-colheita, para que a cultura do milho seja implementada em condições de baixa pressão.

Adaptado: MADALOZ & POLICENA (2020).
6. Agilidade operacional
É importante que o agricultor avalie sua capacidade operacional para que consiga implementar com eficiência e agilidade a cultura do milho, ao passo que promova a colheita da soja. O pátio de máquinas e quantidade de colaboradores deverão estar muito bem ajustados, pois operações de colheita, plantio, pulverização e adubação ocorrerão de modo simultâneo.
7. Monitoramento do clima
O acompanhamento das condições climáticas na região da propriedade é de grande importância para a programação de um milho safrinha de sucesso. É importante estar atento ao monitoramento histórico, principalmente das chuvas, para traçar estratégias de colheita da soja e implementação do milho. A prática de dessecação da soja pode ser uma possibilidade interessante na antecipação de colheita e ganho de tempo para a semeadura do milho. Em anos com condições climáticas atípicas, o atraso da semeadura de milho pode proporcionar fases fenológicas fundamentais para a cultura em períodos secos ou mesmo em condições de frio acentuado com risco de geada, o que seria extremamente prejudicial.
Se mal estruturado, o sistema de sucessão soja- milho safrinha está sujeito a amargar prejuízos elevados, em razão do alto custo de produção da segunda safra. Por isso, fique atento às dicas desse artigo e planeje o sistema de sucessão da maneira adequada, proporcionando altos níveis de rentabilidade para a sua propriedade.
Autor: Matheus Oliveira – supervisor técnico de desenvolvimento
Referências
FERNANDES, Paulo Henrique Ramos. Danos e controle do percevejo marrom (Euschistus heros) em soja e do percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus) em milho. 2017. 84 f. Tese (Doutorado em Entomologia e Conservação da Biodiversidade) – Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, 2017.
FERNANDES, P. H. R; ÁVILA, C. J. DANOS DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE EM DIFERENTES ESTÁDIOS DA PLANTA DO MILHO. XIII Seminário Nacional – Milho Safrinha, nov, 2015.
REVISTA CULTIVAR. Medidas de controle de plantas daninhas em milho. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/noticias/medidas-de-controle-de-plantas-daninhas-em-milho. Acesso em: 19 jul. 2021.