O sistema de sucessão soja-milho, ou milho safrinha, vem ganhando visibilidade ao longo dos anos. A estratégia de cultivo é muito utilizada para aproveitar ao máximo os recursos do solo, plantando a soja e, na sequência, o milho.
Na agricultura brasileira, a prática é realizada principalmente nos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, de Goiás e Minas Gerais. Isso por conta das condições climáticas dessas regiões, como o regime de chuvas prolongado e a amplitude térmica, que proporcionam altos tetos produtivos.
Continue a leitura para entender mais sobre a safrinha de milho, suas vantagens e dicas para realizar a sucessão!

Características do milho safrinha
Diferentemente do milho de primeira safra, semeado como cultura principal entre os meses de setembro e novembro e colhido entre março e maio, o safrinha possui período de cultivo e colheita próprios, sendo plantado de janeiro a abril e colhido entre maio e julho.
Essa janela de plantio ocorre após a colheita da soja, aproveitando o período chuvoso e os nutrientes disponibilizados pela cultura anterior.
O milho safrinha, também identificado como de segunda safra, é uma importante cultura no cenário agrícola brasileiro e tem ganhado destaque pela produção em grande escala e por contribuir significativamente para a produção de grãos no país.
Na safra 2022/23, a cultura foi uma das principais responsáveis pela produção de grãos no País, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Dos 322,8 milhões de toneladas totais previstos, 102,2 milhões foram da segunda safra do milho.
Benefícios do milho safrinha
O uso da área é uma das vantagens da sucessão soja-milho, possibilitando duas safras com altíssimo rendimento. Além disso, é válido ressaltar que o ciclo mais curto das cultivares de soja tem permitido a colheita antecipada, aumentando a janela de plantio ideal para a cultura do milho.
Outro ponto importante é a possibilidade de otimização do maquinário e dos implementos agrícolas, que têm sua atuação dobrada dentro da propriedade.
Semeadores e colheitadeiras, máquinas anteriormente utilizadas uma vez no ano, passam a ter seu uso intensificado, reduzindo o custo de investimento pelo fato de não ficarem paradas.
O aproveitamento eficiente do nitrogênio proveniente da fixação biológica (FBN) também deve ser ressaltado. A macromolécula é componente de importantes biomoléculas, como proteínas, clorofila e amido, que são essenciais para a fisiologia da planta de milho. A soja no verão é capaz de deixar de 35 kg a 45 kg/hectare de residual no solo.

Milho e soja se beneficiam de solo bem cuidado e rico em nutrientes.
Dicas para sucessão soja e milho
Confira sete estratégias para potencializar seu planejamento e o sucesso da programação!
1. Escolha da área
O planejamento deve ser iniciado na escolha da área com maior aptidão para o cultivo de milho safrinha. Além disso, o nível de fertilidade e o equilíbrio de nutrientes no solo são muito importantes.
Nitrogênio e fósforo, disponíveis para extração da planta, além de potássio, cálcio e magnésio são principais macronutrientes pelo aumento da produção.
O manejo da fertilidade da área vem também com as práticas de calagem, gessagem e adubação equilibrada. Faça uma boa preparação do solo antes do plantio, garantindo que esteja livre de plantas daninhas e em boas condições para receber as sementes.
Adubação adequada
A adubação do milho safrinha requer alguns macronutrientes, tais como:
- Nitrogênio: importante no estágio vegetativo.
- Fósforo: essencial para desenvolvimento radicular.
- Potássio: auxilia no crescimento de raízes mais saudáveis.
A aplicação de fertilizantes contendo esses nutrientes deve ser feita de acordo com as necessidades nutricionais da cultura e as recomendações técnicas da região.
Além disso, a cultura exige certos micronutrientes, como zinco, boro, manganês, cobre e ferro. A necessidade de cada um deve ser observada com a análise do solo realizada previamente e em consulta com o engenheiro agrônomo especialista na safra.
2. Escolha da cultivar de soja
Cultivares de soja com menor ciclo proporcionam maior segurança na implementação da segunda safra de milho. É válido ressaltar que o agricultor deve avaliar, juntamente ao seu engenheiro agrônomo, a melhor variedade para a sua propriedade, considerando a adaptação para a região, precocidade, estabilidade e o potencial produtivo.
A definição da cultivar de soja com boa resistência a pragas e doenças também contribui para reduzir a incidência de problemas fitossanitários que poderiam afetar o desenvolvimento do milho safrinha.

A escolha da cultivar de soja impacta diretamente na presença de pragas na safra do milho.
3. Época de plantio do milho
Saber quando plantar milho safrinha é essencial para planejar a sucessão. A época de plantio possui impacto direto sobre o potencial produtivo da lavoura, por isso, deve ser determinada no início do planejamento. Erro nos cálculos ou na escolha da cultivar pode causar atrasos na segunda safra e menor aproveitamento de chuvas.
Outro detalhe importantíssimo é que o ciclo do milho é definido por meio da soma térmica diária, ou seja, o acúmulo de graus no dia. Atrasos de sete dias no plantio, por exemplo, podem significar aumento de 20 dias no final do ciclo, situação que potencializa riscos de danos na lavoura.
Esse aumento de dias também pode coincidir com as geadas, recorrentes nos meses de junho e julho na Região Sul.
4. Residual de herbicidas e manejo de resistência
Um ponto de atenção na hora da dessecação de plantas daninhas é identificar o período de persistência do herbicida aplicado e a interferência que ele pode ter no desenvolvimento inicial do milho safrinha.
É importante ponderar sobre o cultivo de milho RR (planta tigueira), que está relacionado ao uso repetitivo de um mesmo defensivo. O manejo correto deve ser realizado com utilização de outros princípios ativos, evitando que as plantas se tornem seletivas.
5. Controle preventivo de insetos
A repetição de sistema soja-milho pode ocasionar a ponte verde, em que insetos que atacam a cultura do milho continuam no campo e sobrevivem na cultura da soja. No estabelecimento inicial do milho, o complexo de percevejos é um exemplo, podendo provocar danos significativos na lavoura.
Quando não controlado no momento correto, pode causar perdas de até 43% em comparação a uma planta não atacada. A principal espécie causadora de danos em milho é a Dichelops melacanthus, o percevejo de barriga-verde.
A lagarta do cartucho, Sposoptera frugiperda, é outra praga importante no milho. Possui hábito alimentar polífago e sua incidência também se acentua devido à sucessão das culturas. Sua ação danosa pode fazer estragos nas espigas e plantas como um todo.
É fundamental que o agricultor utilize estratégias de controle de percevejos e lagartas ao longo do ciclo da soja e, inclusive, na dessecação pré-colheita, para que a cultura do milho seja implementada em condições de baixa pressão.

O monitoramento é essencial para evitar a ponte verde. Imagem: Adaptação/MADALOZ & POLICENA (2020).
Para prevenir a persistência dos insetos na passagem de safras, a rotação de culturas deve ser priorizada. A realização da semeadura na época indicada também tende a minimizar a propagação das pragas. O uso de inseticidas no tratamento das sementes é outro método de controle.
6. Agilidade operacional
É importante que o agricultor avalie sua capacidade operacional para que consiga implementar com eficiência e agilidade a cultura do milho, ao passo que promova a colheita da soja.
O pátio de máquinas e a quantidade de colaboradores devem estar muito bem ajustados, pois as operações de colheita, plantio, pulverização e adubação ocorrerão de modo simultâneo.
7. Monitoramento do clima
O acompanhamento das condições climáticas na região da propriedade é de grande importância para a programação do milho safrinha. Atente-se ao histórico, principalmente das chuvas, para traçar estratégias de colheita da soja e implementação do milho.
A dessecação da soja pode ser uma possibilidade interessante na antecipação da colheita e no ganho de tempo para a semeadura da safrinha.

Atentar-se ao clima é parte fundamental durante a safra de soja para que o milho seja cultivado no período em que as chuvas e a temperatura não atrapalhem o rendimento da lavoura.
Em anos com condições climáticas atípicas, o atraso do plantio do milho pode proporcionar fases fenológicas fundamentais para a cultura em períodos secos ou mesmo em condições de frio acentuado com risco de geada, o que seria extremamente prejudicial.
Custos da safrinha do milho
Se mal-estruturado, o sistema de sucessão soja-milho está sujeito a amargar prejuízos elevados, em razão do alto custo de produção da segunda safra. Os resultados dependem muito da época do plantio.
As safras mais precoces têm sistema semelhante à normal. Ao passo que, quanto mais tardia, as variáveis e os riscos tendem a aumentar, principalmente com o frio iminente e o déficit hídrico. Isso implica em mais investimentos necessários e, consequentemente, a possibilidade de perda no rendimento.
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Conteúdo atualizado em janeiro de 2024. Texto original produzido por Matheus Oliveira – supervisor técnico de desenvolvimento da Brasmax.
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