O clima é uma das principais adversidades encontradas pelos produtores durante a safra de soja, por ser uma variável incontrolável. Temperatura, fotoperíodo e disponibilidade hídrica são grandes limitantes na busca do máximo rendimento, afetando o desenvolvimento e, consequentemente, o resultado da lavoura.
Segundo a NOAA, entidade meteorológica norte-americana, a probabilidade de ocorrência do La Niña na safra 2022/23 é de 66% no trimestre de outubro a dezembro e cai para 45% entre janeiro e março. Com isso, a safra brasileira pode ser impactada.
Continue lendo o texto e confira as dicas que separamos para ajudar a mitigar os impactos do La Niña em sua lavoura. Boa leitura!

La Niña
O La Niña é um fenômeno natural que consiste no resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, com início nas áreas próximas a Linha do Equador. Ventos alísios sopram com intensidade sobre o Pacífico e deslocam a camada de água quente para o oeste.
O resfriamento produz consequências para a circulação geral da atmosfera, implicando em transformações nas condições climáticas, como por exemplo, a ocorrência de excesso de chuva em determinadas áreas e de seca severa em outras regiões (MetSul Meteorologia).
De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e Sociedade (IRI), 77% as chances do fenômeno persistir por mais uma safra no país são de 77%, com possível normalização entre janeiro e março de 2023. Esse seria o terceiro ano consecutivo com ocorrência deste efeito, fato que se repetiu apenas três vezes desde 1950.
É possível observar na Figura 1 as anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM), no período de janeiro de 1982 a janeiro de 2022, de acordo com as séries históricas da NOAA. As linhas em azul representam os eventos de La Niña (fase negativa) e as linhas vermelhas os eventos de El Ninõ (fase positiva).

Figura 1: Índice Multivariado do El Niño Oscilação Sul (ENOS). Região Niño 3.4. Período: janeiro de 1982 a janeiro de 2022. Fonte: NCEP/NOAA.
A anomalia do Pacífico Equatorial Central divulgada no mês de maio de 2022 foi de -1,2oC, a menor desde o ano 2000. Esta é a região utilizada para classificar se há El Ninõ ou La Niña e, portanto, a mais observada na climatologia.
Valores tão baixos de temperatura para o Pacífico Equatorial nesta época do ano ocorreram poucas vezes na série histórica das últimas décadas. Conforme a base de dados da NOAA, o Pacífico esteve muito frio entre abril e maio, como agora, com anomalias no limite de moderada a forte intensidade nos anos de 1985, 1988, 1999, 2000, 2008, e 2011.
Consequências do La Niña no Brasil
O fenômeno é responsável por interferir no clima de todas as regiões do Brasil, principalmente durante a safra, causando fortes chuvas no Norte e Nordeste e secas no Sul do Brasil (Figura 2).

Figura 2: Comparação entre os fenômenos El Niño e La Niña. Fonte: Globo Rural.
Como consequência do último La Niña (21/22), nas regiões Norte e Nordeste do país tivemos excesso de chuva, dificultando e atrasando a colheita da soja, gerando grãos ardidos ou apodrecidos, além de comprometer a qualidade e a produção das lavouras.
Já no Sul do país, o efeito foi adverso. Ocasionando em seca severa e altas temperaturas e dificultando o estabelecimento das lavouras de soja por falta de umidade, gerando distúrbios nutricionais e hormonais das plantas, causando antecipação e desuniformidade da floração, proporcionando abortamento de flores e vagens, retenção foliar, além de menor formação de grãos e consequentemente reduções drásticas de produtividade.
Reflexos do La Niña no Cerrado brasileiro
A ocorrência de chuvas regulares durante o ciclo da cultura é vantajosa, entretanto, o excesso hídrico pode ser prejudicial, afetando principalmente a época da colheita da soja e diminuindo a qualidade dos grãos e sementes produzidas.
Além disso, os dias nublados na região do cerrado também prejudicaram o desenvolvimento da cultura da soja gerando plantas com porte reduzido e entrenós curtos.
Na última safra, em decorrência do La Niña, tivemos um grande volume de chuva nas regiões Norte, Nordeste e em partes do Centro Oeste, superando as médias históricas em mais de 500 mm em algumas localidades.
Reflexos do La Niña no Sul do país
Na região Sul, os impactos da intensidade do La Niña (21/22) foram muito graves no meio rural, com volume de chuva abaixo da média no Paraná, Sul do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e em grande parte do Rio Grande Sul.

Figura 3: Anomalia de precipitação(mm) trimestral de dezembro de 2021, janeiro e fevereiro de 2022. Fonte: INMET.
Além disso, tivemos por vários dias consecutivos, altas temperaturas potencializando as perdas na lavoura.

Figura 4: Anomalia de temperatura(°C) média trimestral de novembro e dezembro de 2021, e janeiro de 2022. Fonte: INMET.
O milho e a soja foram as culturas com maiores quebras de produtividade. Conforme a Emater, as perdas nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul foram superiores a 50%, sendo que em algumas fazendas não foi possível realizar a colheita devido as baixas produtividades.
Ações para reduzir os impactos do La Niña
Segundo o último relatório do Departamento de Meteorologia dos Estados Unidos (NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration), o fenômeno La Niña segue atuando, e tende a alcançar a primavera e talvez o verão de 2023, atingindo novamente uma das principais culturas vigentes, a soja. Para tentar mitigar os impactos desse fenômeno, é recomendado a realização de algumas ações como:
- Realizar um bom manejo do solo;
- Semear a cultivar dentro da área de Zoneamento Agrícola;
- Realizar o escalonamento da semeadura, pois em caso de estiagem não afetará toda a lavoura simultaneamente;
- Utilizar cultivares com grupos de maturação diferentes e que possuam uma maior tolerância ao estresse hídrico;
- Utilizar de cultivares mais adaptadas para a sua região, seguindo a recomendação do obtentor;
- Contratar um seguro agrícola para proteção das lavouras;
- Estar atento as informações climáticas e meteorológicas como forma de precaução para estiagens mais duradouras. Em lavouras com sistema de irrigação, se programe armazenando água e tornando essa irrigação mais eficiente possível.
Com a utilização das alternativas preventivas citadas acima, principalmente em safras com o prognóstico de La Niña, conseguimos atenuar as perdas pelo estresse hídrico, minimizando os impactos desse fenômeno no resultado das lavouras de soja.

Autores: Maicol de Mattos– Supervisor técnico de desenvolvimento M1 e Thiago Pereira Campos– Supervisor de desenvolvimento M3
Referências
Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do RS. RELATÓRIO ESTIAGEM. Porto Alegre – RS, 05 de 2022. Disponível em: https://www.agricultura.rs.gov.br/relatorio-estiagem-05.pdf.
MetSul Meteorologia. La Niña já impacta chuva e cresce preocupação com efeitos no campo. São Leopoldo-RS, 18 novembro de 2021. Disponível em: https://metsul.com/la-nina-ja-impacta-chuva-e-cresce-preocupacao-com-efeitos-no-campo.
GeoClima Soluções Ambientais. El Ninõ Oscilação Sul – ENOS. Disponível em: http://www.geoclimas.com.br/apresentacao/destaque.
CANAL RURAL. La Niña até o verão de 2023 pode levar à quebra de safra de soja no Sul. São Paulo, 14 setembro de 2022. Disponível em: www.canalrural.com.br/projeto-soja-brasil/la-nina-verao-2023-soja-sul-brasil.
AGROLINK. Setembro tem influência do La Niña. 01 setembro de 2022. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/noticias/setembro-tem-influencia-do-la-nina_469836.html.
SILVA NETO, S. P. da; SILVA, F. A. M. da. La Niña: sua influência na próxima safra de soja do Centro-Oeste. Portal Dia de Campo, 11 nov. 2010.
SCICROP. Impactos do fenômeno “La Niña” sobre a safra brasileira em 2022. 04 janeiro de 2022. Disponível em: https://scicrop.com/2022/01/04/impactos-do-fenomeno-la-nina-sobre-a-safra-brasileira-em-2022/.
1 Comentário
[…] pioneiro implantou a técnica para diminuir a erosão proporcionada pelas fortes chuvas da região. Como consequência, a rentabilidade da lavoura aumentou, até mesmo diminuindo gastos […]