A realidade do campo brasileiro é também feminina. A presença da mulher no agro é fundamental para toda produção agrícola, e cerca de 1 milhão de mulheres estão no comando de parte dos mais de 5 milhões de empreendimentos rurais do país.
Segundo a consultora em sucessão familiar Marielly Biff, coautora do livro “Mulheres do Agro”, 30 milhões de hectares são administrados por mulheres no Brasil. Desse total, 42% são voltados para a agricultura, sendo 48% dessa fatia destinados à produção de soja.
No mundo, 43% dos pequenos agricultores (cerca de 1,3 bilhão, no total) pertencem à população feminina. Os dados são da Comissão Sobre a Situação da Mulher na ONU (Organização das Nações Unidas).
Esses números expressivos mostram como a presença feminina no campo vem crescendo, especialmente devido ao avanço da tecnologia no setor. Apesar de historicamente ser considerado um segmento masculino, a contribuição das mulheres é fundamental para o desenvolvimento e crescimento do agro. Elas trazem conhecimento e talento aos serviços essenciais no campo, a partir de uma agricultura mais inovadora e estratégica.
A competência feminina é vista em todos os processos do agro, como no planejamento, na administração da propriedade e na segurança do trabalho.
Continue a leitura do texto e saiba mais sobre a importância da mulher no agro, os desafios enfrentados e como implementar mais avanços no setor!
Qual a importância do protagonismo feminino na agricultura?
O protagonismo feminino na agricultura promove a equidade de gênero, estimulando o desenvolvimento econômico e sustentável dos negócios rurais. Além de contribuir para o avanço global na produção alimentícia, diversas mulheres assumem posições de liderança na sucessão familiar.
A importância do protagonismo das mulheres na agricultura decorre de suas contribuições em diferentes aspectos desse setor. Elas estão envolvidas tanto em tarefas operacionais quanto em papéis de liderança, aumentando sua presença e influência nos processos de tomada de decisão.
No campo, as mulheres estão presentes em todos os setores da cadeia produtiva.
Apoiar e empoderar as mulheres na agricultura podem ter efeito multiplicador em resultados sociais e econômicos mais amplos. O investimento tende a ter repercussões positivas economicamente, como aumento de renda, melhoria da nutrição e índices aprimorados de saúde e bem-estar geral nas comunidades rurais.
Histórico da presença da mulher no agro
O Dia Internacional da Mulher é comemorado no dia 8 de março desde 1975. A data foi instituída pela ONU para reconhecer as conquistas sociais, políticas, econômicas e culturais das mulheres ao longo da história e promover a igualdade de gênero. O dia faz referência a um protesto histórico contra a fome, ocorrido em 1917, na Rússia.
No entanto, existe uma comemoração especial para destacar a importância da mulher rural: 15 de outubro. A data foi estabelecida pela ONU, em 1995, com objetivo de elevar a consciência no mundo sobre a participação feminina no campo.
Historicamente, as mulheres foram pioneiras no cultivo agrícola, participando ativamente das atividades de plantio, colheita e trabalho na terra. Elas contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento das práticas agrícolas e para o progresso do setor como um todo.
Nos últimos anos, a presença das mulheres no agro tem aumentado ainda mais. No Brasil, por exemplo, houve alta significativa no número de mulheres envolvidas no agronegócio.
De acordo com o Censo do Agro de 2017, o último divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a porcentagem de mulheres no campo passou de 12%, em 2006, para 19%, em 2017.
Segundo pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, um dos fatores que influenciaram o aumento no rendimento das mulheres é a escolaridade. De 2004 a 2015, o acréscimo foi de 57%. Entretanto, comparado aos homens, os salários ainda são inferiores.
De forma geral, a presença histórica das mulheres no agro tem sido significativa, com suas contribuições abrangendo diversas áreas da agricultura. Os números tendem a crescer, enquanto assumem mais cargos de liderança e impulsionam mudanças positivas no setor.
Desafios enfrentados
Embora a relevância feminina esteja em amplo crescimento no campo, ainda há tabus e tradicionalismos que precisam ser superados. Dessa maneira, o empoderamento da mulher no agro e a consequente evolução do setor são necessários.
Entre as principais dificuldades relatadas neste estudo estão que as opiniões sejam levadas em consideração por funcionários e colegas, além do impasse em conseguir se expressar livremente como mulher, seja na forma de se vestir ou de se comportar.
Em sua pesquisa acadêmica, Marielly Biff aponta cinco grandes motivos para ainda haver desigualdade de gênero no campo:
Culturais.
Emocionais.
De confiança.
Econômicos.
De múltiplos papéis (jornada extensa).
Independentemente do fator, é crucial que entendamos que, com capacitação e inovação, a presença feminina só tem a agregar. Por isso, é preciso que o mercado contrate mulheres e seja mais abrangente na sucessão familiar das atividades.
A pesquisa da Abag ainda traz que as técnicas de campo são um dos desafios mais latentes na gestão do negócio. De acordo com estudo sobre empoderamento feminino no campo, cursos e treinamentos sobre gestão direcionados à inclusão das mulheres na agricultura são capazes de promover um ambiente favorável para a participação feminina, seja no contexto rural ou de uma cooperativa.
Entre as principais ações tomadas no estudo de caso estão o incentivo, a formação, a capacitação e a divisão de tarefas no âmbito familiar para que elas possam participar mais das tomadas de decisão em questões das cooperativas.
Capacitações, treinamentos e estudos são fundamentais para superar os desafios encontrados pelas mulheres no agro.
De forma geral, os principais desafios relatados pelas mulheres incluem:
Falta de oportunidades: devido ao acesso limitado à educação, a treinamentos e empregos no setor agrícola.
Viés de gênero: estereótipos e preconceitos podem dificultar o progresso das mulheres, limitando a participação na tomada de decisão.
Acesso limitado a recursos: é comum que enfrentem dificuldades para acessar terra, finanças e insumos. Isso limita a capacidade de expansão das atividades.
Trabalho não remunerado e não reconhecido: a falta de visibilidade se relaciona à execução de um trabalho informal.
A superação dos desafios contribui para obtenção de mais oportunidades, com um desenvolvimento agrícola inclusivo, oportunizando mulheres a acessarem crédito e desempenharem o trabalho de forma igualitária.
Avanço da mulher rural no mercado
A ONU estabelece sete medidas que podem ser adotadas pelas corporações para o avanço feminino no mercado. Confira ponto a ponto!
Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
Tratar mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.
Proporcionar saúde, segurança e bem-estar a todas as mulheres e aos homens que trabalham na empresa.
Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
Apoiar o empreendedorismo e promover políticas de empoderamento feminino na agricultura em cadeias de suprimentos e marketing.
Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Para além das ações listadas acima, é fundamental ter atenção a outros pontos latentes e palpáveis para mudança no dia a dia das propriedades rurais. Vamos explorar mais ações na sequência.
Empoderamento econômico
É essencial fornecer a elas acesso a recursos financeiros e oportunidades de negócios. Isso pode ser alcançado por meio de programas de microcrédito, treinamento em empreendedorismo e apoio ao desenvolvimento de cooperativas e associações de mulheres rurais.
Educação e capacitação
Investir em educação e capacitação é fundamental para instruir todos os trabalhadores rurais, sejam homens ou mulheres, com as habilidades necessárias para se envolverem em atividades econômicas no mercado de trabalho.
Isso inclui fornecer treinamento em técnicas agrícolas, gestão empresarial, marketing e habilidades digitais. A tecnologia pulsa no setor e é fundamental que todas as pessoas inseridas no meio saibam como tirar proveito da digitalização de processos que antes eram manuais.
Com o aumento das mulheres no agro, é comum a presença de engenheiras agrônomas nas propriedades.
Acesso a recursos produtivos
Assegurar que as mulheres rurais tenham acesso igualitário a recursos produtivos, como terra, água, sementes de qualidade, insumos e tecnologias agrícolas, é fundamental para o seu sucesso no mercado de trabalho.
Isso pode ser alcançado por meio de políticas e programas que promovam a igualdade de acesso e propriedade das terras, além de oferecer assistência técnica e entrada em mercados para os produtos agrícolas assinados por mulheres.
Fortalecimento da capacidade de liderança
Incentivar e apoiar a participação das mulheres em organizações de agricultores, comitês locais e estruturas de tomada de decisão é importante para garantir que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades sejam consideradas.
A passagem da propriedade rural de geração para geração também envolve a participação das mulheres. A capacidade de liderar, de certa forma, representa as ações que envolvem o futuro produtivo de uma família.
Um dos casos é o da Maira Lelis, de Guaíra (SP). Nascida e criada no campo, teve sua formação como pedagoga, mas voltou às origens devido às adversidades da propriedade. Conheça mais sobre seu trabalho e atuação:
Avanços recentes
O Censo do Agro de 2017 aponta que as mulheres comandam cerca de 947 mil estabelecimentos rurais no Brasil — o equivalente a 19% do total. A cada cinco propriedades, uma tem a liderança feminina no agronegócio.
A maior parte dessas fazendas está localizada no Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste (6%). Vale ressaltar que 755 mil possuem terras próprias, enquanto 192 mil não são donas das propriedades. E, além disso, 5,3% do total fazem parte de cooperativas.
A ascensão das mulheres noagronegócio brasileiro é um reflexo de suas aptidões, da dedicação e da capacidade de superação. Marielly Biff afirma que: “contra a competência não há argumentos”. As mulheres já ganharam espaço na agricultura, e com o aperfeiçoamento da liderança, visando a produtividade e a rentabilidade das lavouras, o protagonismo crescerá ainda mais.
Os números demonstram a capacidade de comando e a vontade de enfrentar desafios. Estimular a inclusão e o empoderamento das mulheres no agro promove a construção de um setor mais inovador e sustentável.
Portanto, é fundamental continuar apoiando e incentivando a participação feminina no agronegócio, reconhecendo o seu papel transformador e valorizando o seu legado de sucesso.
A agricultura só tem a ganhar com soma das potências profissionais baseadas em sinergia e complemento de habilidades. Um mercado mais igualitário em oportunidades e múltiplo em talentos é ainda mais forte.
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