Segundo um estudo publicado pela empresa suíça Syngenta, em 2023, doenças comuns às plantações de soja podem causar prejuízos de até 40% em toda a produção, caso não sejam tratadas de maneira adequada. Se não forem sequer tratadas, as perdas podem ser de 100%.
Essa perspectiva leva os produtores agrícolas a recorrerem a soluções, dentre as quais estão os defensivos agrícolas. Eles são produtos químicos que combatem as pragas nos plantios, como os fungos, os insetos e doenças de toda ordem.
Apesar dos seus benefícios em um primeiro momento, a verdade é que o excesso de defensivos pode acabar com o lucro da lavoura, já que as pragas permanecem em muitos casos. Afinal de contas, por que esse fenômeno acontece?
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ToggleO Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM Amazônia) define os defensivos agrícolas como “produtos químicos, físicos ou biológicos usados no controle de seres vivos considerados nocivos ao homem, sua criação e suas plantações”, o que é um bom resumo.
Em outras palavras, são soluções que atacam diretamente as pragas, protegendo as lavouras, mas que podem, em alguns casos, afetar negativamente as plantações, como a soja, por exemplo, que também é um ser vivo.
É importante destacar que, embora os termos sejam frequentemente usados como sinônimos, defensivos agrícolas e agrotóxicos não são exatamente a mesma coisa.
Defensivos agrícolas abrangem uma gama maior de produtos, incluindo opções biológicas e físicas, além das químicas. Já os agrotóxicos se referem especificamente a produtos químicos sintéticos, com alto potencial tóxico e maiores riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Devido aos riscos associados aos agrotóxicos, como o desenvolvimento de doenças graves, seu uso é rigorosamente regulamentado por normas e legislações específicas.
O IPAM Amazônia ainda divide os tipos de defensivos agrícolas entre os acaricidas (destroem ácaros), bactericidas (enfrentam bactérias), fungicidas (eliminam fungos), herbicidas (matam plantas invasoras), inseticidas (contra insetos) e rodenticidas (usados na presença de ratos).
Depois de explicar o que são e como eles são subdivididos, chega o momento de explicar como o excesso de defensivos pode acabar com o lucro da lavoura. O que causa a ineficácia desses produtos? Há muitas razões, dentre as quais selecionamos as mais comuns e como você pode as evitar.
Uma das razões mais comuns para a ineficácia dos defensivos agrícolas é a má qualidade. Isto é, o produto não tem a composição adequada para fazer o efeito buscado. A solução para o problema é a procura exclusiva por alternativas que estejam devidamente homologadas pelos órgãos responsáveis.
Segundo informações do Governo Federal, um defensivo de qualidade deve estar registrado perante o Ministério da Agricultura, com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e também o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).
Além disso, existem algumas leis (7.802/89 e 14.785/2023) que regulam o uso de defensivos agrícolas. A comercialização de itens ilegais pode gerar punições legais. Qualquer uso sem receita agronômica é considerado crime ambiental.
Ao explicar como o excesso de defensivos pode acabar com o lucro da lavoura, é importante destacar que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) informou aos produtores que a adequada aplicação dos produtos é essencial para a sua eficácia, levando em conta o tipo de produto e qual é a praga.
A quantidade ideal aparecerá na bula do defensivo escolhido. Se o documento informar que deverão ser aplicados 5 litros por hectare, então é esse total que deve utilizar; nem mais e nem menos. A aplicação costuma ocorrer a partir de pulverizadores que espalham o produto.
O uso inadequado de um defensivo agrícola pode resultar em outros problemas. Por exemplo, quando em excesso, pode haver contaminação do solo e da água, o que terá graves consequências para a lavoura atual e as próximas plantações. Quando em pouca quantidade, pode não resolver o problema original.
Nesse sentido, além de contar com o apoio de uma equipe profissional, é válido estudar a origem do problema e adotar medidas que funcionem em conjunto para eliminá-lo. Desta forma, a lavoura ficará protegida, assim como os recursos ambientais.
Assim como qualquer outro ser vivo, os insetos, fungos, plantas invasivas e demais pragas são capazes de se adaptar ao meio e resistir às ameaças. Na prática, isso significa que uma quantidade X de defensivo agrícola, indicada pela bula, não será suficiente para combatê-las.
Isso, geralmente, acontece quando um mesmo tipo é utilizado por longos períodos de tempo. A solução não é aplicar uma quantidade maior (já que o excesso de defensivos pode acabar com o lucro da lavoura e levar à morte da própria planta de soja), mas buscar outro tipo de produto ou uma nova abordagem.
O vazio sanitário é uma excelente tática para controlar pragas que afetam a lavoura de soja.
No começo de 2025, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) avaliou que o custo de defensivos químicos na produção de soja no país foi de R$ 1.716 por hectare. Ou seja: o uso deve ser pontual para evitar que o dinheiro investido não acabe desperdiçado.
Essa é a quarta razão pela qual o excesso de defensivos pode acabar com o lucro da lavoura: os produtos são bons e a quantidade está correta, mas os métodos de aplicação não são adequados. É preciso investir em aplicadores modernos.
Considerando o fato de que o Brasil é um dos maiores produtores de soja do mundo, vale lembrar que um levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), mostrou que somos o país que mais usa agrotóxicos.
A fim de que o uso dos defensivos seja efetivo, é preciso considerar os aspectos de ineficácia citados anteriormente e corrigir os problemas. Para começar, opte sempre por produtos que estejam devidamente registrados com os órgãos fiscalizadores, como a Anvisa.
Em segundo lugar, é essencial que sempre confira bulas dos produtos e cheque quanto deve ser aplicado por hectare e qual é o método mais adequado para essa aplicação. Aliado a tudo o que já exploramos, vale a pena mencionar também os chamados “defensivos agrícolas naturais”, os quais não utilizam quaisquer componentes tóxicos e podem ser tão (ou às vezes até mais!) eficazes quanto seus equivalentes químicos.
Além disso, a escolha de sementes de boa procedência ajuda a ter plantas mais resistentes. Veja aqui quais são os principais cultivares do Brasil e saiba qual é a que tem melhor desempenho em sua região.